A auto-hemoterapia foi usada na década de 1910 como forma de combate à gripe espanhola.
AUTO-HEMOTERAPIA USADA NO COMBATE
A VÍRUS NO BRASIL DESDE A DÉCADA DE 1910
A auto-hemoterapia foi usada na década de 1910 como forma de combate à gripe espanhola. A informação está citada em artigo científico intitulado “Ciências da cura: Debates, Embates, Educação popular no final dos anos 1910” de Liane Maria Bertucci - Universidade Federal do Paraná.
Focalizando de forma privilegiada a cidade de São Paulo no final da década de 1910, o texto recupera estratégias de ação de alopatas e homeopatas que conviviam e concorriam na tentativa de firmar e alargar seus espaços de atuação.
O trabalho destaca os discursos elaborados por esses profissionais da saúde no período desestruturador da gripe espanhola e como estas falas, expondo de maneira concisa e direta as concepções de ciência médica dos dois grupos, eram apresentadas ao cidadão de São Paulo. Procuravam educar/cooptar uma população apavorada pelo grande número de enfermos e mortos causados pela epidemia de 1918.
Apesar de entusiasmados com as reações febris em animais devido a inoculação de escarro e sangue filtrados de gripados, o que não ocorria com aplicação de material análogo de outra procedência, os médicos eram reticentes: um maior número de testes precisaria ser feito.
Quanto aos possíveis tratamentos experimentados em seres humanos: por ‘vacina’ de filtrado de escarro (6 pessoas) ou auto-hemoterapia (49 pessoas), os médicos afirmavam que careciam de mais estudos, em mais pessoas, para conclusões consistentes; o que o acúmulo de trabalho, devido à própria epidemia de gripe espanhola, inviabilizara.
O artigo é uma versão modificada do texto “As medicinas e a educação da população no início do século XX”, apresentado no V Encontro da Associação de Filosofia e História da Ciência do Cone Sul, realizado em maio de 2006, no Hotel Maria do Mar em Florianópolis (SC).
Como se sabe, desde então os estudos sobre auto-hemoterapia acumularam-se e em todas as décadas seguintes surgiram momentos importantes com o uso da técnica, que combate mais de cem enfermidades com a returada do sangue da veia e imediata aplicação no músculo do usuário.
AUTORIZAÇÃO:
A autorização expressa de Walter Medeiros para publicação de artigos de sua autoria está publicada neste blog na página: Sobre este blog:http://autohemoterapia-por-doutor-luiz-moura.blogspot.com/p/sobre.html
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A AH E A GRIPE ESPANHOLA DE 1918
RELATOS DA (RE)CONSTRUÇÃO DO SABER MÉDICO DURANTE A GRIPE DE 1918
Liane Maria Bertucci Universidade Federal do Paraná
INTRODUÇÃO: UMA MEMÓRIA. A EPIDEMIA
No início dos anos 1970 a coleção Brasiliensia Documenta, editada em São Paulo, publicou seu volume VI dedicado ao doutor Oswaldo Cruz e sua obra. O tomo II deste volume tem como tema A Escola de Manguinhos. Nele, em uma série de textos curtos, o doutor Olympio da Fonseca Filho descreve diversos trabalhos realizados por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz em diferentes períodos. Em pouco mais de duas páginas, Fonseca Filho rememora um dos experimentos feitos em Manguinhos no início do século XX: o da filtrabilidade do vírus da gripe. (Fonseca Filho, 1973)1 Experiência realizada em meio a epidemia de gripe espanhola do final da década de 1910, a pesquisa feita pelo próprio autor do texto e mais os doutores Aristides Marques da Cunha e Octavio de Magalhães é descrita de maneira sucinta, depois de introdução breve que informa sobre: os primeiros casos da doença no Rio de Janeiro; a tragédia do grande número de mortes e a cidade paralisada; os esforços e dificuldades dos médicos para tratar os enfermos, e a dúvida de alguns deles sobre a natureza da doença ― não dos “médicos mais antigos”, que haviam assistido a epidemia de gripe do final do século XIX, faz questão de frisar Fonseca Filho. (Idem, p.37-38)...
...Assim, na segunda quinzena de novembro, as semanas finais da epidemia de gripe espanhola no Rio de Janeiro e São Paulo, os três doutores ligados ao Instituto Oswaldo Cruz realizaram suas pesquisas com macacos e cobaias e, também, com seres humanos. Foram efetuadas inoculações de filtrados de escarro e de sangue nos animais, que apresentaram reações febris não obtidas com outro material. Foram obtidos resultados positivos tanto com pessoas vacinadas com filtrado de escarro (seis indivíduos), quanto com as que se submeteram a auto-hemoterapia (quarenta e nove pessoas). (Cunha; Magalhães; Fonseca Filho, 1918, p.175-184) Devido ao declínio do período epidêmico as pesquisas e testes foram interrompidos, mas os procedimentos utilizados e resultados conseguidos foram publicados, com a seguinte conclusão: “a gripe é uma infecção produzida por um vírus filtrável”. (Idem, p.191) Ressalvas, entretanto, alertavam que novos experimentos seriam necessários para comprovação definitiva*. (Idem, p. 180-188)
FONTES
CUNHA, A. M.; MAGALHÃES, O. de; FONSECA, O. da. Estudos experimentais
sobre a influenza pandêmica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz Rio de Janeiro:
Manguinhos, tomo X, fasc. II, p. 174-191, ano 1918.
EDGERLY, E.T.; MANSON, F.M.; CARR, J.G. The influenza-pnemonia epidemic at
Camp Dodge, Iowa, 1918. The American Journal of the Medical Sciences.(New
Series) New York: Lea & Febiger, v. CLVIII, p. 212-216, 1919.
FONSECA FILHO, O. da. A pandemia de gripe de 1918 e as primeiras demonstrações
da filtrabilidade do respectivo vírus. Brasiliensia Documenta. São Paulo: [s.n.], 1973.
Tomo II (Oswaldo Cruz. A escola de Manguinhos), p. 37-39.
Fonte http://www.preac.unicamp.br/memoria/textos/Liane%20Maria%20Bertucci%20-%20completo.pdf